quinta-feira, 13 de maio de 2010

Como nasceu o Movimento Gens?

História do Movimento gens

Tradução de fita cassete

Escola gens 1993

Trata-se de uma história que é parte de um desígnio de Deus na Obra de Maria. É importante ter bem claro que aquilo que Deus faz é sempre algo misterioso. Por isso é necessária a luz do Espírito Santo para compreender o seu modo de agir. São muitos os acontecimentos e tantas as graças recebidas que, na verdade, não se sabe apreender ao certo o seu fio de ouro e, por isso, juntos, temos a responsabilidade de ter “Jesus em meio” de modo que seja o próprio Espírito Santo a indicar este fio de ouro.

Iniciamos com o anúncio que Chiara fez sobre o nascimento do Movimento gens, exatamente, como ela nos contou em Loppiano no dia 27 de Abril de 1968:

“Desejo anunciar à cidadela de Loppiano o nascimento do último ramo da Obra: trata-se de um florescimento esplêndido, imprevisto, isto é, do Movimento gens. Mas de que se trata? Agora eu devo confiar-vos que o Movimento gens possui uma raiz profunda e distante. Refaço-me há muitos anos atrás quando, lendo em profundidade um livro sobre a vida de Dom Bosco, nasceu em mim um forte desejo, como ele mesmo sentiu em momento de tantas necessidades de sacerdotes, de um dia oferecer à Igreja dezenas, centenas de sacerdotes formados segundo a sua espiritualidade que, talvez mesmo tendo a vocação, jamais se tornariam sacerdotes se não fossem ajudados pela sua espiritualidade.

Quando eu li este livro, que era um dos tantos serviços que ele prestou à Igreja, nasceu em meu coração uma “santa inveja”. Desejei apenas, pela santa inveja que Deus colocou em meu coração, também poder oferecer à Igreja um grande número de sacerdotes. Talvez pessoas que jamais teriam chegado a isto se não tivessem encontrado alguma coisa que os ajudassem. Trata-se daqueles desejos que Deus coloca no seu coração; sementes que frutificaram ao longo dos anos. Naturalmente, eu compreendia muito bem que não podia, para saciar este desejo, motivar os focolarinos a se tornarem sacerdotes em suas dioceses. Então o Senhor deveria pensar em outra coisa e devia encontrar uma estrada para que este desejo se tornasse realidade. Eis então que há duas semanas, no dia posterior a páscoa, nasceu o Movimento gens.

Quatro dias antes, falando com pe. Silvano, eu lhe confiei que há alguns dias sentia dentro de mim um forte impulso. Era o Senhor que me impulsionava de modo que a Obra de Maria se ocupasse dos jovens seminaristas: dos gens. E eu dizia comigo mesma e também a ele que seria uma coisa maravilhosa se o Senhor fizesse surgir um grupo de gens, os quais com o espírito do Ideal não apenas salvassem a própria vocação e impedissem que muitos seminários em crise começassem com quarenta seminaristas, no seminário menor, e terminassem com quatro padres, mas possivelmente que iniciassem com quarenta seminaristas e concluíssem com oitenta padres, por que durante o período de formação haveria tal irradiação da unidade que atrairia muitos jovens, a ponto de multiplicar o número de seminaristas e, de fazer quarenta tornarem-se oitenta”. Chiara ainda se perguntava: “o que o Movimento gens ainda realizará? Dará inicio a uma nova geração sacerdotal, isto é, a uma nova geração de sacerdotes formada pelo Ideal”.

Portanto, nestas palavras encontra-se a descrição de como o movimento gens nasceu do coração de Chiara a partir de uma relação entre ela e Deus, entre ela e Jesus e aquilo que eles deveriam fazer, isto é, com o Ideal da unidade realizar a própria vocação e também ajudar os outros seminaristas neste mesmo sentido; suscitar nos seminários tal irradiação da unidade a ponto de atrair outros jovens, de modo a oferecer a Igreja uma nova geração sacerdotal renovada pelo Ideal.

Tudo isso se dava no ano de 1968, e como vocês sabem, este ano foi muito conflituoso, especialmente, para os jovens Europeus: foi o ano em que explodiu a contestação. Momento em que tantos valores tradicionais, tantas estruturas que existiam há séculos foram questionadas. Na Igreja tinha se realizado o Concílio Vaticano II que proporcionou novas aberturas e isso tinha levado muitos a pensar que agora tudo mudaria de modo que havia uma confusão de idéias dentro da própria Igreja. Tratava-se de um momento muito delicado. Muitos no seminário pensavam: “mas a essa altura, quem sabe, o celibato será abolido”. Depois o Papa Paulo VI, exatamente neste período, escreveu uma encíclica reafirmando plenamente a validade do celibato. Nestes anos em que tudo desmoronava, apesar de o seminário ser uma estrutura muito forte, muitos seminaristas abandonavam sua vocação. Na vida de alguns de nossos gens aconteceu de se encontrarem, praticamente, sozinhos nos seminários que, por escassez de vocações, foram fechados devendo para isto, transferirem-se para outros. Na Obra de Maria, já em 1966 tinha sido inaugurada a Escola sacerdotal que então funcionava na Villa Maria Assunta, em Grottaferrata e alguns gens, talvez dois ou três, já tinham participado desta Escola. No ano seguinte já participaram cinco ou seis.

Certo dia, um seminarista que já conhecia algo do Movimento veio visitar a Escola sacerdotal e, segundo a mentalidade daquela época, dizia: “eu desejaria oferecer minha vida para que se fechassem todos os seminários do mundo, por que se trata de uma estrutura velha, de tal modo inútil e, por isso, precisaria desaparecer”. Durante aquela semana vivíamos a Palavra de Vida: “Carrego em meu corpo os sinais da paixão de Cristo”. Foi exatamente esta palavra que inspirou Enrique Cambón, que depois teria se tornado o primeiro responsável dos gens, um modo diferente de ver as coisas de modo que ele chegou a afirmar: “também eu daria a minha vida, mas não para que se fechassem os seminários, mas para que com o Ideal pudessem se tornar aquilo que Deus pensou para o bem da Igreja, para a glória de Deus, para a glória também daqueles que vivem nestes seminários”. Ele comunicou esta experiência também a outros seminaristas que conheciam o Ideal, por que como vocês podem entender, já havia neste período vários seminaristas pelo mundo que conheciam o Movimento dos focolares. Porém, não existia ao interno da Obra uma expressão que os recolhesse, que realizasse a unidade entre eles. Por isso, Enrique comunicou a estes seus amigos seminaristas esta experiência e logo diziam: “sim, também nós desejamos dar vida por isto”. Então eles escreveram uma carta a Chiara na qual lhe descreveram toda esta realidade e ela lhes respondeu escrevendo sobre um envelope um pequeno comentário que pedia para pe. Silvano se o ramo sacerdotal não poderia pensar em produzir um pequeno boletim para circular entre os seminaristas, nos seminários cujo reitor estivesse de acordo que eles fossem, como um “gen seminarista”. Este era o primeiro germe daquilo que depois se tornaria a Revista Gens. Isto aconteceu no dia 22 de janeiro de 1968, data do aniversário de Chiara. Algumas semanas depois, Chiara teve um encontro com pe. Silvano e lhe confiou ainda que tinha este desejo: “que a Obra de Maria, na medida do possível, assumisse mais decididamente o acompanhamento dos seminaristas”. Padre Silvano não perdeu um momento sequer. Pôs-se ao telefone e ligou para muitos lugares da Europa para dizer: “se vocês têm alguns seminaristas que conhecem o Ideal, enviai-os para Roma por ocasião do período da páscoa”. Duas semanas depois, havia um grupo de quarenta seminaristas no Centro Mariápolis de Roma para o primeiro Congresso gens (geração nova sacerdotal).

Para esse Congresso Chiara mandou um presente. Uma escultura de bronze que representa Jesus ressuscitado com os braços erguidos para o céu, expressando seu retorno para o Pai. Ao redor Dele existem figuras de pessoas em tamanho menor, mas perfeitamente iguais, também levadas por Ele para o céu. Chiara escreveu uma mensagem na qual explica desta forma este presente: “aos gens, este símbolo de Jesus ressuscitado que leva atrás de si o povo de Deus ressuscitado com os votos de um esplendoroso, e muito fecundo desenvolvimento do novo Movimento que dará à Igreja uma nova geração sacerdotal. Em Jesus ressuscitado: Chiara”. Este é o documento de nosso nascimento que se deu no dia 4 de Abril de 1968. Nós penduramos esta figura de bronze na entrada do Centro Gens tendo ao lado uma cópia da mensagem de Chiara que sempre nos recorda o desígnio de Deus sobre esta realidade na qual nós estamos inseridos e da qual somos chamados a ser protagonistas.

No final deste primeiro congresso gens ocorreu um fato muito bonito. Aqueles que tinham disponibilidade permaneceram ainda conosco e, na segunda feira do Ângelus de 1968, foram até à Praça São Pedro e ali, pelas 14h, tiveram a idéia de entoar um canto do Ideal. Creio que foi “Ave Mariápolis”. Neste momento o Papa Paulo VI apareceu na janela e os abençoou. Ele não sabia quem abençoava, porém tinha reconhecido que o canto era dos focolarinos, e como vocês sabem Paulo VI nos conhecia muito bem, pois ele era tio da Eli. Deste modo, podemos também dizer que os gens nasceram com esta benção do Papa.

Neste período Chiara deu aos gens um patrono. Um seminarista suíço, Peter Bund-schuh, tinha feito toda a teologia. Porém, em seu coração percebia que a sua vida não correspondia a este grande chamado e que tudo aquilo que ele tinha estudado estava mais na sua cabeça que em sua vida. Encontrando o Movimento, ele descobriu um caminho para viver o cristianismo e, portanto, decidiu ir a Loppiano, onde naquele momento só havia a escola de formação para os focolarinos. Depois de um ano de intensa vida de unidade com “Jesus em meio”, se confirmou o seu chamado ao sacerdócio. Portanto, este foi um ano maravilhoso para ele. Depois disso retornou para a Suíça para ser ordenado presbítero. Na sua chegada ele foi ao focolare e os focolarinos lhe disseram: “Olha, exatamente amanha os focolarinos de Zurique devem ir a Friburgo, na Alemanha, para animar um encontro para sacerdotes. Você não gostaria de ir conosco?”. Durante a viagem a Friburgo, no dia seguinte, aconteceu um acidente. Eles se chocaram contra um carro e ele começou a ajudar um focolarino que estava no assento diante dele e, exatamente naquele momento, outro carro chocou-se sobre eles de modo que Peter morreu no momento em que prestava este ato de amor. Ele não chegou ao sacerdócio, mas realizou plenamente seu Ideal: Deus. Diante disto Chiara no-lo deu como patrono e nele sempre vemos que o nosso ideal não é o sacerdócio, mas Deus. Se Deus quiser, nos tornaremos também sacerdotes. Mas se por acaso morrermos antes, não ficaremos desiludidos. Esta é como que uma primeira novidade que esta nova geração sacerdotal leva consigo.

Deus o Ideal, antes do sacerdócio, era de tal modo fascinante para estes primeiros gens que o levavam para todos os lugares, o gritavam, o cantavam, o comunicavam aos outros seminaristas. Neste período, havia um bom grupo que participava da Escola sacerdotal de modo que chegaram quase a pensar que estivesse surgindo um seminário focolarino. Padre Foresi, que sempre ajudou Chiara na fundação da Obra e que tem uma graça particular para a encarnação, portanto para concretizar na atualidade as idéias de Chiara, chegou neste momento e disse: “mas que idéia é esta que vocês estão pensando? Nós não temos a graça para formar os sacerdotes. O que podemos é dar-vos o Ideal, mas a formação dos sacerdotes deve ser feita nos seminários. Portanto, dentro de 48 horas vocês devem decidir: se vocês acreditam ter vocação ao sacerdócio, procurem um seminário. Se ao contrário, vocês tem impressão que Deus os chama para vida do Ideal, mas não ao sacerdócio, se desejarem, podem ir à Loppiano...”. Era o retorno dos gens aos seminários. Isto é muito importante, porque foi assim que esta realidade tão nova, verdadeiramente, entrou na vida dos seminários e começou a renová-los.

Consideremos agora a realidade dos gens naqueles anos.

Todo ano havia um bom grupo que vinha à escola sacerdotal. Também no Centro Mariápolis, uma ou duas vezes por ano, se realizavam encontros muitas vezes numerosos. Em certas ocasiões vinha um ônibus repleto de seminaristas, inclusive o reitor, e desciam do ônibus com aquelas batinas. Muitos deles eram fulgurados pelo Ideal de modo que em lugares surgiam grupos de gens sempre mais numerosos. Em Roma havia uma secretaria volante que os acompanhava. Os gens residiam em vários colégios Romanos e no domingo vinham ao Centro sacerdotal ou se reuniam na Escola sacerdotal. Ali eles liam as cartas que tinham recebido, as respondiam, preparavam um boletim para os seminaristas. Tratava-se dos primeiros aggiornamentos sobre a vida gens. Deste modo levavam para frente esta vida.

Em 1971 Chiara, por ocasião de um encontro com pe. Silvano e o Centro sacerdotal, lhes pede: “mas este boletim para os seminaristas é mimeografado ou impresso?”. E pe. Silvano lhe diz: “é mimeografado”. Então Chiara afirma: “mas seria necessário que fosse impresso, por que a Igreja tem necessidade deste Ideal em todos os seminários e, portanto, é preciso que ele seja lançado mais amplamente possível”. Assim, teve início a Revista gens impressa. Para produzi-la foi necessário que alguém cuidasse das assinaturas, da redação, da expedição, etc. e, com este pretexto teve início um grupo estável de gens que se tornará a partir de 1971 o Centro Gens.

Porém, os gens do Centro e aqueles da Escola, que sempre estavam muito juntos, não estavam habituados a cozinhar. Desta maneira eles iam fazer refeições na Escola sacerdotal. Naqueles anos surgiu um conjunto musical de modo que a certo ponto deram início também a um recital. Por isso eles iam também até às paróquias e, sobretudo, cantavam por ocasião de encontros no Centro Mariápolis. Em certa ocasião, num encontro de paróquias, Chiara se fez presente e ali os ouviu cantar. Enquanto eles desciam aos seus lugares, Chiara pronunciou esta palavra: “mas os gens são mesmo uma simpatia, a simpatia de Nossa Senhora”. Deste modo ela expressava o amor que sentia pelos gens.

Alguns anos depois, em 1977, quando surgiu a possibilidade para quatro gens de participar da festa de Santa Clara na residência de Chiara, período em que ainda participavam desta festa apenas um grupo de 50 pessoas, eles puderam saudar Chiara ao que ela lhes disse: “eu já disse que Nossa Senhora tem uma predileção pelos gens que são também os meus prediletos”.

Sempre através destes recitais, em outra ocasião, houve um grande Congresso sacerdotal e Chiara sabia que os gens iriam fazer sua apresentação musical, ocasião em que ela disse: “escutem! Peguem um chapéu e o façam circular entre as pessoas com o objetivo de recolher alguma coisa”. Os gens recolheram cerca de meio milhão de liras. Depois disto eles se perguntaram: “O que faremos com este dinheiro?”. E decidiram enviar a Chiara, pois era sua a idéia de fazer aquela coleta. Porém Chiara lhes devolveu o dinheiro com um bilhete através do qual, no dia 17 de Março de 1972, ela escreveu: “Parabéns caríssimos gens. Colocai este meio milhão de liras no banco como primeiro fundo para os gens pobres que desejarem vir à Escola ou para realizar algum estudo. O restante usai-o para a manutenção da Revista gens e para doar assinaturas para os gens mais pobres. A este fundo nós demos o nome de fundo São José. Uma vez que estava próxima a festa de São José. Também São José ajudou o jovem seminarista Jesus. Também São José ajudou o jovem seminarista Jesus na escola Espírito Santo e de Maria”.

Vocês devem recordar que em 1972 ainda não existiam as unidades gens, mas apenas alguns grupos gens que se organizavam do melhor modo possível. Iam para frente com muito entusiasmo. Contudo era necessário dar-lhes maior consistência. Deste modo, no natal de 1972 realizou-se um primeiro encontro bastante restrito. Estiveram presentes cerca de vinte gens.

Em 1973, por ocasião da segunda edição deste encontro, são aprofundados os sete aspectos. Chiara enviou uma mensagem para esta ocasião, na qual ela distingue entre duas realidades, isto é, entre aquilo que ela chama de gens e outra realidade que ela denomina Juventude Nova sacerdotal. Em 1973 ainda não existia o Movimento Juventude Nova na Obra. Então Chiara escreveu: “Com os melhores votos aos gens, para que realizem plenamente o seu programa: dar à Igreja, através de vosso empenho de vida uma multidão de Juventude Nova sacerdotal”.

Portanto, Chiara, ao lado dos gens que assumem uma vida muito empenhada, com a vivência dos sete aspectos, vida de unidade via, já então, como distinta, mas já unida, como fruto destes gens mais empenhados, uma multidão de Juventude Nova sacerdotal.

Esta segunda realidade, entendida mais ao largo, veio em relevo somente doze ou treze anos depois, quando já estava se delineando a realidade do Movimento gens ao largo. Deus, ao contrário, pensou em estabelecer antes esta realidade das unidades gens. Percorramos juntos algumas etapas.

Em 1974, realizou-se o primeiro encontro de Chiara com os gens. Neste ano tinha nascido a vocação dos sacerdotes focolarinos. Ainda não existiam os sacerdotes voluntários. Os gens, no dia sete de dezembro, dia de sua consagração a Deus, escreveram a Chiara: “Chiara, nós sentimos que Deus nos chama a seguir a tua mesma estrada e, agora, nos preparamos para o nosso encontro...”. E, de fato, Chiara se fez presente a este encontro e os gens lhe perguntaram: “Chiara, nós podemos trilhar a tua própria estrada?”. E Chiara disse: “Sim, é simples. Se vocês desejam, podem logo fazer o pedido e começar a preparação, porque se trata de uma estrada séria, de modo que precisa preparar-se”. Então preparamos um grande pergaminho pedindo de poder seguir a quarta estrada. Deste modo, durante alguns anos, os gens mais empenhados eram conhecidos como “os gens da quarta estrada”.

Em 1975 aconteceu outro encontro com Chiara. Naquele ano éramos oitenta, não mais sessenta como no ano anterior. Esta foi a primeira vez que Chiara nos chamou de “popi” e para nós era como dizer: “olhe, vocês não são um apêndice da Obra. Não estão na periferia”. Isto era importante para nós por que diante dos gen que em todos os momentos podiam correr ao focolare e quando havia alguma novidade na Obra eles eram os primeiros a saber das notícias nós, residindo nos seminários, tínhamos sempre a impressão de nos encontrarmos na periferia da Obra de Maria. Por isso, nesta ocasião, Chiara de fato nos convenceu de que não estamos na periferia, mas no coração da Obra. Chiara, durante meia hora, nos deu maravilhosas respostas. Sobretudo sobre Jesus em meio apresentando esclarecimentos sobre nossa vida gens nas unidades gens, como vida de unidade, como vida de Jesus em meio. Naquela ocasião ainda ela nos disse: “eu vejo a vossa escolha de Deus relacionada à vida de Jesus em meio; é lógico que quando não tendes a presença de Jesus em meio também a escolha de Deus começa a vacilar”.

Mas havia outro motivo pelo qual também Chiara veio a este encontro, mesmo se naqueles dias ela estava meio adoentada, de modo que lhe dissemos: “Chiara, olha, nos seminários quase não se encontram mais resistências ao Ideal”. Naquele momento era assim. Então Chiara disse: “eu vou ao encontro dos focolarinos também só para isso”. E nos lançou na conquista dos seminários. Naquela ocasião ela também nos disse: “vejam, vocês tem poucos anos para ser seminaristas, seria melhor ter um pouco mais de tempo, não é verdade? Nestes anos não vos ocupeis com as moças, mas ocupai-vos com os seminaristas. Isto por que são os seminaristas que conquistam os seminaristas”.

Em 1977 aprofunda-se, em toda Obra, a realidade de Jesus presente na hierarquia. No final do encontro gens, através de uma ligação telefônica, Chiara nos dá a sua recomendação: que os gens se tornem os prediletos dos seus bispos. Também isto começou a tornar-se realidade naqueles anos.

Em Setembro de 1979 realiza-se a primeira Escola gens. No entanto, três anos antes, nos meses de Março e Abril, tinha nascido a escola gen da qual participaram também alguns gens. Mas neste período não é fácil que um bom número de seminaristas participe de um encontro. Por isso, Chiara desejava que nascesse a Escola gens. Com o surgimento desta escola se concluiu como que um capítulo da história do movimento gens e, como Deus não perde tempo, se abriu um outro que consistiu no nascimento dos gens3.

Vários gens foram enviados pelos seus formadores para auxiliar como assistentes nos seminários menores. Vivendo naquele ambiente, muitos seminaristas ficaram fascinados pelo Ideal e diziam aos gens: “você participa de um encontro, e nós? Não podemos participar também?”. Deste modo apresentamos a Chiara esta pergunta: “o que fazer diante deste perdido?”. E quando percebemos que os seminaristas menores que aderiam ao Ideal não eram apenas alguns, mas sempre mais numerosos, Chiara respondeu: “é preciso dar inicio ao movimento especial para eles e nós o chamaremos movimento gens3”. Na páscoa de 1980 realizamos um primeiro contato por ocasião do encontro das pré-unidades gens. E lhes perguntamos: “mas como é que vocês vivem? Que experiência vocês fazem? O que é que vocês sentem no coração?”. E vinha sempre como resposta a escolha de Deus. “O que conta é Deus: depois veremos para que estrada ele nos chama”. Referimos isto a Chiara e ela nos falou da realidade dos gens3 e também dos gens daquele momento: “Isto é como ouro colado, ouro colado quer dizer ouro puro, não é verdade? Temos em mãos ouro puro para o futuro da Igreja e da humanidade”.

Em 1981 os gens3, finalmente, tiveram o seu Congresso próprio e foi maravilhoso.

Em 1983 Chiara marca a vida deles com uma palavra de vida: o “eis-me aqui”, do jovem Samuel.

A este ponto se abre outro capítulo. Nasce naqueles anos o Movimento Juventude Nova e no centro da Obra foi constituída a secretaria deles. Chiara logo desejou que, na medida do possível, houvesse também um gens nas secretarias do Movimento Juventude Nova. Com isso ela colocou em relevo quanto considera importante que todas as realidades da segunda geração tivessem sempre um estreito relacionamento entre elas.

Entre 1984 a 1986 nós, olhando para a nossa realidade nos dizíamos: existem muitos seminaristas que jamais ingressam nas unidades gens. Já tínhamos chegado a realizar o encontro das unidades gens com cento e vinte seminaristas e até com cento e quarenta, isto por que não existiam muitos obstáculos à participação. Depois disto, sucedeu um momento de provação nos seminários. Nós nos demos conta de que havia muitos outros seminaristas interessados no Ideal, mas que não se sentiam interessados a ingressar nas unidades gens. Foi então que recordamos daquilo que Chiara havia dito, há tantos anos, referindo-se ao grande número de membros de Juventude Nova Sacerdotal. Foi assim que se desenvolveu o movimento gens ao largo.

Em Setembro de 1987 realizamos um primeiro Congresso. Participaram 300 seminaristas e nós procuramos colocar em relevo tudo aquilo que o Ideal opera nos seminários. Durante uma tarde deste congresso esteve presente também Monsenhor Ripa, encarregado da Congregação para a Educação Católica, que segue a vida dos seminários. Depois de ter ouvido por longo tempo ele nos disse: “Escutem, sempre que nós pensamos nos seminários, pensamos nos formadores. Nunca teria imaginado que os seminaristas pudessem fazer tanto, nos seminários”. Na verdade, ele se deu conta de que também os seminaristas dão um timbre, um contributo, à vida do seminário. Ele ficou muito impressionado e nos dizia: “Realizem outro encontro, mas não apenas para 500 participantes, mas possivelmente para 3.000”. Neste sentido, dois anos depois, realizamos outro encontro. Porém houve outro fato significativo neste primeiro Congresso do Movimento Gens ao largo. Neste período o Papa estava em Castelgandolfo e no dia seguinte viajaria para os Estados Unidos e nós nos encontrávamos bem próximos dali. Inicialmente nos tinham dito que o Papa não realizaria audiências particulares, mas só a geral. Porém seu secretário, tendo-se dado conta de nosso congresso, nos ligou dizendo-nos: “Vocês ficariam contentes de vir esta tarde até o ingresso da residência de verão do Papa para entoar alguns cantos e fazer algumas fotos com ele?”. Deste modo, poucas horas antes de o Papa partir para os Estados Unidos, estivemos com ele para lhe apresentar alguns cantos. Na ocasião não houve nenhum discurso, mas ele nos disse para nos organizar em oito grupos, de modo que eram grupos de trinta ou quarenta seminaristas cada, organizados por línguas. O Papa passou de grupo em grupo, trocando com eles algumas palavras, colocando-se no meio deles para fazer algumas fotos. Criou-se, deste modo tal clima de família que muitos seminaristas que tinham algum preconceito contra o Papa diziam: “Eu nunca teria imaginado que o Papa é um verdadeiro pai”.

No natal de 1989 aconteceu o segundo encontro tendo, desta vez, sido convidados os seminaristas de todo o mundo, contando com muitas iniciativas, como campos de trabalhos, para possibilitar sua participação. Parece incrível, mas éramos quase 600. Desta vez também o Papa estava em Castelgandolfo, de modo que veio presidir uma Santa Missa para nós, no Centro Mariápolis e, este foi um momento belíssimo, coincidindo com o encontro dos focolarinos casados externos, contando com a participação também de toda a Mariápolis romana, inclusive com a presença de Chiara. O Papa ficou muito tocado desta presença da Obra na Igreja e fez votos de que esta presença penetre em toda Igreja.

Naquele mesmo dia, poucas horas depois, Chiara apresentou o seu tema. Pela primeira vez depois de tantos anos Chiara falou a um grupo de seminaristas. Este seu tema teve um impacto extraordinário de modo que os seminaristas se sentiram compreendidos e disseram: “esta é a vida”. Estavam cativados por estas palavras de Chiara sobre o amor recíproco e pelo fato dela dizer: “escutem, o estudo não é suficiente. Se o estudo não estiver fundado sobre uma vida, ele não serve. É necessário viver sobre a rocha, viver a palavra”. Todos estavam muito tocados.

Houveram também outros momentos que nos permitiram colher a grande esperança que Chiara sempre depositou nos gens. Neste sentido desejo ler-vos duas cartas. Uma é de 1976, ano em que se aprofundou o tema de “Jesus em meio”. Entre outras coisas Chiara havia escrito aos gens do Brasil: “Vos agradeço, em nome de Nossa Senhora, pelo Ideal vivido com vocês, pelos frutos que este produziu em vossas almas e nas almas de muitos”. E depois acrescentou: “a Igreja espera muito da nova geração de sacerdotes e vocês, com Jesus em meio, darão o mais válido contributo para que ele resplandeça em toda sua beleza, no mundo de hoje. Declaro-vos Jesus em meio certa que Ele entre vocês realizará grandes coisas”.

Em 1984 o Papa, por sua própria iniciativa, esteve no Centro da Obra pela primeira vez. Para este encontro esteve presente toda Obra de modo que estiveram também alguns gens. Alguns meses depois, por ocasião do encontro de natal, Chiara nos enviou uma longa mensagem na qual, entre outras coisas, diz: “caríssimos gens, vocês estiveram presentes no encontro com o Santo Padre no dia 19 de Agosto de 1984, por ocasião de sua visita ao Centro Mariápolis como uma esperança na Obra e na Igreja e, em particular, como a esperança do nosso movimento sacerdotal. Não desiludam tamanha expectativa, mas antes façam com que ela se torna realidade. Eu confio em vocês. Assumam todo o Ideal e transformai-o em vida da vossa vida. Com o ministério para o qual vos preparais, Ele vos dará aquela plenitude necessária para que, de fato, vos torneis outros cristos. Então o mundo ainda estimará o sacerdote e compreenderá sua missão e se confiará aos seus cuidados e quando o sacerdote ocupa o seu verdadeiro lugar o paraíso se encherá”. Aqui se colhe exatamente toda esperança de Chiara num contexto em que freqüentemente os sacerdotes se encontram em crise, onde os sacerdotes muitas vezes não são estimados, não são compreendidos.

Outro momento verdadeiramente especial aconteceu em 1987 quando realizamos uma maravilhosa Escola gens, repleta de muitas graças com tantas cartas pessoais dos gens escritas a Chiara. No final desta escola ela própria desejou vir e responder nossas perguntas. Tratavam-se de perguntas sobre como Chiara vê os gens, o que deseja de nós, qual o perfil dos gens segundo ela, se deseja dar-nos uma palavra de vida, se tem algo especial a nos confiar, etc. Chiara, naquela ocasião, como que descreveu o perfil dos gens como um “popo”: uma pessoa que colocou Deus em primeiro lugar e que por isso esquece todo o resto, até o sacerdócio, e se coloca a amar a todos. Mas alguém que é exatamente assim é sacerdote como Jesus era sacerdote. Sacerdote e vítima, sem nada de clerical. Chiara delineou exatamente este quadro. E então lhe perguntamos: "Chiara, você deseja dar-nos uma palavra de vida?”. Ela pensou um momento e depois nos disse: “eu vos darei exatamente aquela que expressa o sacerdócio:como o Pai me enviou, assim eu também vos envio’”.

Naquela ocasião, tendo ali a presença de Chiara e mantendo com ela uma esplendida unidade, esta frase ressoava para nós também de outro modo: “como o pai me enviou, com este carisma, com esta luz, assim eu vos envio a levá-lo a toda parte”. Houve também outro dom especial em 1989, fruto do amadurecimento da vida daqueles anos. Chiara, naquele momento sentiu que tinha chegado o momento justo de alargar o Conselho de Coordenação da Obra, de modo que incluiu nele também o responsável do Movimento gens, de modo que significava estar ainda mais inseridos no coração da Obra.

Em 1993, celebramos as bodas de prata do Movimento gens. De toda parte do mundo, os gens começaram a enviar fax a Chiara e nós também lhe enviamos um presente. Apenas tinham chegado os primeiros dois ou três fax, quando Chiara nos respondeu com um fax que nos dizia o seguinte: “aos gens a minha alegria, por estes 25 anos. Aos gens a minha alegria unida à vossa pelo vigésimo quinto aniversário, com os votos de melhorar sempre. Unidissima Chiara”.


Padre Hubertus - Responsável geral dos sacerdotes em Roma pela Obra de Maria.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Composição

No coração do Movimento

O "Focolare" é o primeiro núcleo de unidade no qual se desenvolveu o Movimento “que pouco a pouco, foi se revelando conforme um desígnio preciso de Deus”, como afirma Chiara Lubich.

É uma pequena comunidade com um novo estilo de vida, que tem como modelo a Família de Nazaré. É composta por leigos, virgens (distintamente homens e mulheres) e pessoas casadas que, vivendo na própria família, doam-se totalmente a Deus.
O principal compromisso dos membros é viver com radicalismo o mandamento do amor recíproco, para que se mantenha sempre viva aquela presença de Jesus que Ele mesmo prometeu a quem estiver unido em Seu nome. (Mt 18.20).
O primeiro focolare surgiu em Trento, com Chiara Lubich e as suas primeiras companheiras, em 1944. Em 1948, teve início o primeiro focolare masculino. Atualmente estas comunidades são 780, em 87 países.
Uma única árvore, várias ramificações
Desde o início jovens e famílias, idosos e crianças, operários e profissionais, políticos e homens de cultura, religiosos e religiosas de várias congregações e consagradas de institutos seculares, sacerdotes e recentemente também bispos, sentiram-se atraídos a viver com radicalismo a espiritualidade da unidade.
Foram delineadas várias ramificações que sustentam os movimentos de amplo alcance, como instrumentos para renovar a sociedade e a Igreja e contribuir para a realização do “testamento” de Jesus: “Que todos sejam um”.

Humanidade Nova – É a expressão de todo o Movimento no aspecto social. Os principais responsáveis são leigos das mais diversas categorias sociais e profissionais, denominados “Voluntários de Deus”, responsáveis pela renovação dos vários campos da sociedade, como economia, relações entre grupos, etnias e culturas, direito, saúde, arte, educação, comunicação, política.Os Voluntários surgiram em 1956, logo depois da invasão soviética na Hungria. Responderam ao apelo de Chiara que, atendendo ao pedido do Papa Pio XII, expressa nas páginas da revista Cidade Nova a urgência do surgimento de “autênticos discípulos de Jesus, que voluntariamente o sigam. Um exército de voluntários – porque o amor é livre – capaz de construir uma sociedade nova".

Familias Novas – É animado pelos focolarinos casados. Abre um novo caminho para as crises familiares e transforma a família na célula-base que contribui para a recomposição da unidade na sociedade.O amor é revitalizado. Casais em crise recobram forças para voltar ao diálogo. A família se abre à dimensão social. Promove uma cultura inovadoraseguindo quatro diretrizes: educação, formação, socialização e solidariedade. São realizadas adoções, tutela de menores e sustento à distância em países do hemisfério Sul e no Leste Europeu.

Jovens por um Mundo Unido - Propõe aos jovens serem protagonistas de um mundo novo, com numerosas atividades de solidariedade e paz em nível nacional e internacional. É animado pelos jovens mais comprometidos, os "gen 2", "geração nova", a segunda geração do Movimento. Em resposta às exigências de profundas transformações por que passavam as novas gerações, em 1967 Chiara propôs aos jovens o caminho do radicalismo evangélico.

Movimento Juvenil pela Unidade – Tem por objetivo realizar a fraternidade universal, começando nas próprias cidades e nos ambientes nos quais vivem. Percorrem todos os caminhos possíveis a fim de superar barreiras e divisões.
Sustentado pelos "gen 3", terceira geração, os adolescentes tornam-se promotores de manifestações internacionais, de micro-projetos de solidariedade e se enriquecem reciprocamente através do intercâmbio dos valores culturais que encontram de outras iniciativas em favor daqueles que vivem na marginalidade e na pobreza. Muitos destes adolescentes provém dos "gen 4", as crianças do Movimento, que têm entre quatro e oito anos de idade.

Movimento sacerdotal – Em conformidade como o Concilio Vaticano II, pretende contribuir, através da Espiritualidade da Unidade, para a renovação das estruturas eclesiásticas. É animado pelos sacerdotes e seminaristas diocesanos membros do Movimento.

Movimento Paroquial – Propõe fazer da Paróquia uma “casa e escola de comunhão”, suscitando vitalidade e força evangelizadoras novas. Seus animadores são sacerdotes, religiosos e leigos do Movimento. É uma ação que se está desenvolvendo também em nível diocesano em algumas igrejas locais italianas por meio do Movimento Diocesano.Movimento dos religiosos e das religiosas – São formados por membros de institutos de vida consagrada e sociedades de vida apostólica que fazem própria a espiritualidade do Movimento dos Focolares, aprofundam a comunhão no interior da própria comunidade, entre famílias religiosas diferentes, entre carismas antigos e novos, a fim de contribuir com todos na realização da Igreja-comunhão e da fraternidade universal.


Responsáveis pelo Movimento
A presidente - Chiara Lubich fundou o Movimento e o dirigiu de modo carismático por mais de 60 anos. Após o seu falecimento, ocorrido em março passado, será uma mulher, leiga, que presidirá o Movimento, como confirmam os estatutos reconhecidos pela Santa Sé, para garantir o seu “perfil mariano” e a conotação prevalentemente leiga.

O co-presidente e o conselho - A presidente é coadjuvada por um co-presidente, focolarino sacerdote, e por um conselho no qual estão representados os vários aspectos (econômico, espiritual, cultural, etc.), as diversas áreas geográficas e as ramificações, confiados a dois responsáveis, um do setor feminino e outro do setor masculino.
A Assembléia geral é o principal órgão de governo do Movimento e se reúne a cada seis anos. Entre suas funções: a eleição da presidente, do co-presidente e dos conselheiros gerais. A assembléia é composta pelo corpo dirigente central e pelos representantes das 90 regiões territoriais dos cinco continentes, nas quais atualmente o Movimento está dividido.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

As origens

Um instrumento nas mãos do Artista

O meu testemunho de vida e de fé caminha passo a passo com a fundação e o desenvolvimento do Movimento dos Focolares. É, talvez, uma experiência um tanto singular.
Quando Deus toma nas mãos uma criatura para fazer surgir uma obra sua na Igreja, a pessoa não sabe o que deverá fazer. É um instrumento. Acredito que esse possa ser o meu caso.
O Movimento que nasceu possui as qualidades típicas de uma obra de Deus: unidade incondicional com a hierarquia da Igreja, fecundidade e difusão desproporcional a qualquer força ou capacidade humana, cruzes, cruzes, cruzes, mas também frutos, frutos, frutos, copiosos frutos.
Em geral os instrumentos de Deus possuem uma característica: a pequenez, a fragilidade. Diz Paulo que “o que é fraqueza no mundo... Deus escolheu... o que não é... a fim de que nenhuma criatura se possa vangloriar diante de Deus” (1Cor 1,27-29). E enquanto o instrumento se movimenta nas mãos de Deus ele o forma, com grande número de procedimentos dolorosos e alegres. É assim que o torna cada vez mais apto ao trabalho que deve desenvolver. Até que, tendo conquistado um profundo conhecimento de si mesmo e uma certa intuição sobre Deus, pode dizer com competência: eu sou nada, Deus é tudo.
Quando tudo começou, em Trento, eu não tinha um programa, não sabia nada. A idéia da Obra estava em Deus, o projeto, no Céu. Foi assim no início. Foi assim no decorrer dos mais de 60 anos de desenvolvimento do Movimento dos Focolares.

A primeira intuição

Um indício. Estamos em 1939. Sou convidada a participar de um encontro para estudantes católicas, em Loreto. Este será o ponto de partida da minha experiência espiritual.
Acompanho o curso, como todas. Mas sempre que posso, durante os intervalos, corro para a Casinha protegida pelo santuário. Não tenho tempo para me perguntar se, como diz a tradição, aquele é historicamente o ambiente que hospedou a Sagrada Família, em Nazaré. Ajoelho-me ao lado da parede escurecida pela fumaça das velas. Não consigo pronunciar nenhuma palavra. Algo de novo e divino me envolve, quase me esmaga.
Com o pensamento contemplo a vida virginal dos três. Então Maria deve ter morado aqui. José deve ter percorrido este quarto daqui para lá. o Menino Jesus, entre eles, viveu neste lugar por anos. Entre estas paredes deve ter ressoado a sua voz de menino... não consigo controlar as lágrimas. Acontece assim a primeira vez. Mas depois, em todos os intervalos do curso, corro novamente para lá. Aquela convivência de virgens, com Jesus entre eles, possui uma atração irresistível.
Chega o último dia. A igreja está repleta de jovens. Assalta-me um pensamento claro, que jamais se cancelará: “Uma fileira de virgens a seguirá”.
Voltando a Trento encontro os meus alunos e o pároco. Ao ver-me feliz ele pergunta: “Você descobriu o seu caminho?” “Sim”, respondo. “O casamento?” “Não”. “O convento?” “Não”. “Você permanecerá virgem vivendo no mundo?” “Não. É um quarto caminho”, concluo. Mas não sabia dizer nada além disso.
Passam-se quatro anos.
Enquanto faço um ato de caridade percebo que Deus me chama a doar-me a ele para sempre. Peço a permissão a um sacerdote e a obtenho. É o dia 7 de dezembro de 1943. A alegria interior é inexplicável, secreta, mas contagiosa. Por vários motivos venho a conhecer outras jovens da minha idade. Elas desejam percorrer o mesmo caminho.

Deus é amor! A vida se transforma

1944. A guerra se abate sobre Trento. Destruição, ruínas, mortos. Os bombardeios continuam e com eles desaparecem aquelas coisas ou pessoas que constituíam o ideal dos nossos jovens corações. Uma de nós amava a própria casa e ela foi destruída. Uma outra esperava pelo dia de seu casamento, mas o noivo não retornou da guerra. O meu ideal era o estudo, a guerra me impede de freqüentar a universidade.
Cada acontecimento nos toca profundamente. A lição que Deus oferece por meio das circunstâncias é clara: tudo é vaidade das vaidades. Tudo passa. Aflora uma pergunta: existirá um ideal que não morre, que nenhuma bomba seja capaz de destruir?

Sim, Deus. Em meio à destruição causada pela guerra, conseqüência do ódio, a luz do carisma nos leva a uma compreensão totalmente nova. Como se fosse a primeira vez ficamos extasiadas pela verdade sobre Deus: “Deus é amor” (1Jo 4,8): qualquer circunstância que nos atinge, seja ela alegre, triste ou indiferente, tudo nos parece uma expressão do seu amor. A alegria e a surpresa são tão grandes que não hesitamos em escolher a ele, exatamente a ele, Deus Amor, como ideal da nossa vida. E comunicamos logo, a quem está perto de nós – parentes, amigos – a nossa grande descoberta: “Deus é amor, Deus nos ama, Deus o ama!”.

Como responder ao Amor? Fazer a sua vontade

Os nossos pais fugiram para os vales. Nós ficamos em Trento, algumas por causa do trabalho, outras pelo estudo, e eu para acompanhar o Movimento que estava nascendo. Vamos morar em um apartamento com poucos cômodos, que nós chamamos de “casinha”.
Dia e noite é preciso correr para os refúgios anti-aéreos. Levamos conosco apenas o Evangelho. Encontramos o ideal pelo qual viver. Como responder ao seu amor?
O Evangelho responde: “Nem todo aquele que diz ‘Senhor, Senhor’ entrará no reino dos céus, mas sim aquele que pratica a vontade de meu Pai que está nos céus” (Mt 7,21). Portanto, nada de pieguices ou sentimentalismo. O que importa é fazer a vontade de Deus. E todos podem vivê-la: é o cartão de acesso à santidade para as massas!

O Evangelho: toda promessa se realiza

Há muito tempo eu já havia colocado os meus livros no sótão. Quando tinha 18 anos o meu único desejo era conhecer Deus. Amava profundamente a filosofia, mas os estudos da escola média não tinham saciado esta minha sede. Quando devia começar o curso superior pensava que se entrasse numa universidade católica talvez encontrasse alguém que me falasse de Deus e me ensinasse quem ele era. Por diversas circunstâncias não foi possível me inscrever nela e por isso chorei amargamente. Mas justamente naquele momento tive a impressão de que, no profundo da alma, alguém me dissesse: “Eu serei eu o seu mestre”.
Hoje, depois de muitos anos, posso afirmar que Aquele que falava foi fiel à sua promessa. E o fez enviando um dom de luz, um carisma do Espírito Santo que iluminou o Evangelho inteiro. Víamos as suas palavras fascinantes, majestosas. Podem ser traduzidas em vida, são luz para todo homem que vem a este mundo e, portanto, são universais. Se forem vividas tudo se transforma: o relacionamento com Deus, com os próximos, com os inimigos. Aquelas palavras dão o devido lugar a todos os valores e levam a deixar de lado tudo, até o pai, a mãe, os irmãos, o próprio trabalho... para colocar Deus no primeiro lugar no coração do homem.
As promessas do Evangelho são extraordinárias: cem vezes mais nesta vida e a vida eterna. Onde está a piedade de pescoço torto, a cantilena de orações vazias, a fé por hábito, o Deus inacessível? Não, esta não é a religião de Jesus. Ele age como Deus. Pelo pouco que damos, ele nos cumula de dons. Estamos sós e nos vemos circundadas por mil mães, mil pais, mil irmãos e irmãs, por uma infinidade de bens que podemos distribuir a quem nada tem. Não existe nenhuma situação humana que não encontre a resposta, explícita ou implícita, naquele pequeno livro que contém palavras de Deus.
Vivemos frases do Evangelho, com um sentido completo, uma de cada vez. Um dia lemos: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 19,19). O próximo. Onde está o próximo? Nós o descobrimos perto de nós, em todas as pessoas atingidas pela guerra, sem roupas, sem casa, famintas e com sede.
“Tudo o que fizerdes ao menor dos meus irmãos é a mim que o fareis”. Em grandes panelas preparamos sopa para levar aos pobres. Muitas vezes eles batem à nossa porta e os convidamos a sentar conosco à mesa: um pobre e uma de nós, um pobre e uma de nós.
O Evangelho garante: “Pedi e recebereis”. Pedimos tudo o que é necessário. E em plena guerra chegam sacos de farinha, caixas de leite e mel, lenha, roupas, para todos os pobres da cidade.
Um dia encontro um pobre: “Preciso de um par de sapatos número 42”. Eu me pergunto: “Em plena guerra, onde vou encontrar um par de sapatos de homem, número 42?”. Passo diante da igreja de Santa Clara e entro, não há nada, apenas uma pequena luz que me diz que Jesus está ali. Digo-lhe: “Jesus, me dê um par de sapatos número 42, para você naquele pobre”. Saio da igreja e vem ao meu encontro uma senhora com um pacote nas mãos: “Chiara, é para os seus pobres”. É um par de sapatos número 42!
O Evangelho é verdadeiro! Esta constatação dá asas ao caminho que acabamos de iniciar. Queremos que o Evangelho seja a única regra do Movimento que está nascendo. O Espírito Santo nos impulsiona a partilhar entre nós as experiências que fazemos e a nossa alegria é imensa. Suscita curiosidade em tempos tão tristes. As novas e arrebatadoras experiências evangélicas passam de boca em boca. Como um eco das palavras dos apóstolos: Cristo ressuscitou. Aqui se proclama: Cristo está vivo!
Entre todas as palavras – a cada mês vivemos uma em especial – o carisma evidencia de modo especial as que se referem explicitamente ao amor evangélico para com o próximo. Um amor sempre novo: é dirigido a todos, pede que cada um tome a iniciativa, é concreto, reconhece e ama Jesus em cada próximo.

O coração do Evangelho: “Amai-vos como eu vos amei”

O refúgio onde nos abrigamos não é seguro. Estamos sempre diante da morte. Uma outra pergunta nos invade: mas existirá uma vontade de Deus que lhe agrade particularmente? Se morrêssemos queríamos ter colocado em prática justamente aquela, pelo menos nos últimos instantes.
O Evangelho fala de um mandamento novo, que Jesus considera seu: “Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15,12-13). Olhamos umas para as outras – éramos seis ou sete moças – e nos declaramos: “Eu estou pronta a morrer por você”. “Eu estou pronta a morrer por você”. “Eu estou pronta a morrer por você”. Ainda que não nos fosse pedida a vida física, devíamos estar sempre dispostas a morrer, de certo modo anulando-nos espiritualmente diante das irmãs e dos irmãos. A fim de poder compreendê-los e amá-los, partilhando tudo: os poucos bens materiais e os bens espirituais. Foi um pacto solene. Será o alicerce sobre o qual o Movimento inteiro se apoiará.

Uma Presença que traz luz, alegria, amor...

Mas, uma vez que o amor mútuo é atuado, a nossa vida interior dá um salto de qualidade, percebemos uma nova segurança, uma vontade mais decidida, uma alegria e uma paz que jamais havíamos experimentado, uma plenitude de vida, uma luz abundante. Por que isso acontece? O Evangelho nos responde: “Onde dois ou três estão reunidos no meu nome – isto é, no seu amor, como afirmam os Padres da Igreja – eu estou no meio deles” (Mt 18,20). Portanto, silenciosamente Jesus tinha se introduzido no nosso grupo, como um irmão invisível! Jamais queremos perdê-lo.
Mais tarde, muito mais tarde, entenderemos: esta é uma reprodução, em germe e sui generis, da casinha de Nazaré. Uma convivência original, de virgens e casados com Jesus entre eles: o focolare. Mas para tê-lo sempre conosco é preciso estar sempre dispostas a amar, até o ponto de morrer umas pelas outras. Se estamos unidas dessa maneira Jesus está espiritualmente e plenamente presente entre nós. Desde então nos empenhamos em renovar sempre o pacto do amor recíproco, de modo a “gerar” – como afirmou Papa Paulo VI – Jesus entre nós. Este é o compromisso constante de todos aqueles que vivem no Movimento.

“Que todos sejam um”: nascemos para aquela página

Um dia estou com as minhas novas amigas em uma porão escuro, com uma vela acesa e o Evangelho nas mãos. Abrimos e encontramos a oração de Jesus antes de morrer: “Pai... que todos sejam um” (Jo 17,11). É um texto difícil para jovens como nós, mas aquelas palavras parecem se iluminar uma a uma, e colocam no nosso coração a convicção de que nascemos para aquela página do Evangelho, para contribuir para a unidade dos homens com Deus e entre eles, e assim realizar o desígnio de Deus sobre a humanidade.
No dia da festa de Cristo Rei nos reunimos ao redor de um altar. Dizemos a Jesus: “Você sabe como tornar possível a realização da unidade. Nós estamos aqui. Se você quiser, use-nos para este fim”. A liturgia daquele dia nos fascina: “Pede – ela diz – e eu te darei as nações como herança, os confins da terra como propriedade” (Sl 2,8). Pedimos com fé. Deus é onipotente.
Jesus havia dito: “Que sejam um... para que o mundo creia...” (Jo 17,21). Cristo se faz presente na unidade entre os irmãos e o mundo crê. Foi o que aconteceu ao nosso redor. Depois de poucos meses cerca de 500 pessoas de todas as idades, homens e mulheres, de qualquer vocação e de todas as camadas sociais, desejam compartilhar o nosso ideal. Entre nós tudo é colocado em comum, como acontecia entre as primeiras comunidades cristãs.

História do Movimento dos Focolares

O Movimento dos Focolares




Trento, 1944
Em um refúgio anti-aéreo abrimos ao acaso o Evangelo na página do Testamento de Jesus:“Pai, que todos sejam um, como eu e tu”.Aquelas palavras pareciam iluminar-se uma a uma. Aquele "todos" foi o nosso horizonte. Aquele Projeto de Unidade a razão da nossa vida.

Chiara Lubich


O primeiro núcleo em Trento...

É num panorama de ódio e violência, durante a 2ª Guerra Mundial que se acende a centelha inspiradora, a "descoberta fulgurante" do Único que "nenhuma bomba pode destruir": Deus. Deus, experimentado como Amor, muda radicalmente a vida de Chiara Lubich, na ocasião com um pouco mais de vinte anos de idade. Uma experiência comunicada e compartilhada imediatamente com suas primeiras companheiras.
Aos refúgios anti-aéreos levam somente o Evangelho. Descobrem “como” responder ao Amor. É a própria Chiara que escreve naquele tempo: "Cada dia novas descobertas: o Evangelho tornava-se o nosso único livro, única luz de vida".
No mandamento do amor recíproco descobrem a lei para recompor, através da fraternidade, a sociedade desagregada. "Colocávamos tudo em comum: utensílios, casas, ajuda, dinheiro. Era uma outra vida".
Com admiração, aquele primeiro grupo experimenta a luz, a força, a coragem, o amor, frutos da presença de Jesus, prometidos por Ele quando dois ou três estão reunidos no Seu nome. Uma luz que ilumina a última oração de Jesus ao Pai: que todos sejam um. Este projeto divino sobre a família humana, torna-se o programa da vida delas: "Façamos da unidade entre nós um trampolim para correr onde não há unidade e realizá-la".
Os efeitos: "Cada dia aumentam ao nosso redor pessoas de todas as idades e condições sociais. Ódio e rancor são apagados. Muitas famílias se recompõe em paz”. Nasce a certeza que no Evangelho está a solução de todos os problemas individuais e sociais.

... um Movimento

Rapidamente aquele primeiro grupo torna-se um Movimento que suscita uma renovação espiritual e social. Em pouco mais de 60 anos de vida alcançou uma difusão mundial (182 países), além de dois milhões de aderentes e uma irradiação de alguns milhões, dificilmente quantificável.
Um pequeno povo – Por causa da diversidade da sua composição, com os anos o Movimento assume as dimensões de um pequeno povo, como o definiu o Papa João Paulo II: abraça não só católicos, mas também cristãos de diferentes Igrejas e Comunidades Eclesiais, além dos hebreus. Aos poucos vão fazendo parte do Movimento, seguidores das grandes religiões e até pessoas sem uma referência religiosa. A adesão ao Movimento acontece sem sincretismos, na plena fidelidade à própria identidade. Comum é o empenho de viver, de várias maneiras, o amor e a unidade que estão inscritos no DNA de todo homem.
Porque a denominação de Movimento dos Focolares- Desde o início o Movimento foi denominado pelas pessoas de Trento como "dos focolares", por causa do "fogo" do amor evangélico que animava Chiara Lubich e suas primeiras companheiras.
Fundadora: Chiara Lubich. Ela mesma ressalta que o Movimento "não foi pensado por uma mente humana, mas é fruto de um carisma que vem do Alto. Nós procuramos seguir a vontade de Deus, através das diversas circunstâncias, dia após dia".
As aprovações – O Bispo de Trento, Mons. Carlo De Ferrari, dá a sua primeira aprovação, na Igreja local, em 1947: “Aqui existe o dedo de Deus”. Seguem-se as aprovações pontifícias: a primeira em 1962; a mais recente, para os desenvolvimentos ulteriores, em 1990.
Um Movimento eclesial - Os Focolares inserem-se no atual fenômeno de florescimento dos movimentos eclesiais que originam-se de um "carisma preciso, doado à pessoa do fundador" (João Paulo II), ou seja de um "dom do Espírito" que suscita sem cessar "a novidade do cristianismo" (card. Ratzinger). João Paulo II reconhecerá no carisma de Chiara Lubich um "radicalismo do amor" e, no Movimento, o perfil da Igreja do Concílio, aberta aos vários diálogos (19.8.1984).

Espiritualidade da Unidade

Enquanto se acreditava que simplesmente se vivia o Evangelho – escreve ainda Chiara Lubich – inadvertidamente o Espirito ia ressaltando algumas Palavras que deveriam tornar-se os princípios operantes de uma nova corrente espiritual: a espiritualidade da unidade".
É a partir desta espiritualidade, do estilo de vida de pessoas de toda idade, categoria, vocação e cultura, que o Movimento se desenvolve. No coração do Movimento estão os 'focolares', pequenas comunidades masculinas ou femininas, de virgens ou casados.
No quadro atual de mudanças que marcam uma época, compartilhando com a humanidade a sofrida gestação de uma nova sociedade globalizada, interdependente, multicultural e multireligiosa, o Movimento está empenhado, juntamente com muitas outras forças que se movem para este mesmo objetivo, a compor na unidade a família humana, enriquecida pela diversidade.

Geração Nova Sacerdotal - Gens

Saudações, amigos!

Este espaço é para atender às nossas formações. Nele teremos a oportunidade de aprofundar um pouco mais na Espiritualidade da Unidade e também nos formarmos juntos, unidos. Queremos contar com a colaboração de todos os membros das unidades Gens espalhadas por todo o Brasil.
Sugestões, dúvidas, contribuições, deixem um comentário ou enviem para congressogens@yahoo.com.br.
Construindo a unidade...
 
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